Embora os primeiros passos para a introdução
de Rotary no Brasil tivessem sido dados em 1916, somente
em 1922 (dezembro) é que se conseguiu a adesão
de dezesseis profissionais, de classificações
diferentes, dispostos a integrar o Rotary Club do Rio
de Janeiro, que conseguiu a aprovação
de Rotary International.
Em 1920 houve a primeira tentativa que o Rotary Intemational
recusou em virtude de o quadro social estar integrado
exclusivamente por cidadãos americanos aqui residentes.
A ética da historiografia exige que os fatos
relatados e as afirmações do narrador
estejam amparados em provas documentais, mas, da minha
parte, não consigo sopitar a formação
analítica do meu espírito, pela necessidade
que sinto de penetrar nas causas favorecedoras, modificadoras
ou impeditivas dos acontecimentos.
Assim, tomo de mim mesmo, vênia para concluir,
pelos vai-vens do processo formador e pelas personagens
que o lideraram, que a demora havida na formação
do Rotary Club do Rio de Janeiro, foi devida, de um
lado, ao radicalismo nacionalista imperante entre os
brasileiros, na época, e, de outro lado, à
exagerada tendência de os americanos residentes
permanecerem agrupados e isolados e, no particular,
amparados na afirmação de que "o
espírito de Rotary não seria aceito pelos
latinos", emitida por dois delegados do Rotary
International que haviam fracassado na fundação
do Rotary Club de Havana, anos antes.
Herbert Coates, embaixador dos Estados Unidos em Montevidéu,
no Uruguai, e Recorde Monnsen, seu colega no Rio de
Janeiro, trouxeram, em 1916, de Chicago, a atribuição
de fundarem Rotary Clubs nas sedes das suas embaixadas.
Coates o conseguiu, em 1918 e, em 1922, veio ao Rio
de Janeiro como representante do Rotary International
e, apoiado por alguns integrantes das duas tentativas
anteriormente malogradas, conseguiu fundar o Rotary
Club do Rio de Janeiro, sob a presidência de João
Thomé Saboya e Silva, filiado em Rotary International
a 28 de fevereiro de 1923.
Somente Herbert Moses, dentre os anteriormente interessados,
participou entre os fundadores e Recorde Monnsen, responsável
pela fundação em 1916, só ingressou
no clube em novembro de 1923.
O Club cresceu rapidamente, pois em 1924 já se
compunha de 45 sócios. O Brasil foi, assim, o
quarto país da América do Sul e o sexto
da Ibero-América a sediar Rotary. Antes de nós
estavam, pela ordem: Cuba, México, Uruguai, Argentina
e Peru. Em 29 de fevereiro de 1924 instalou-se o Rotary
Club de São Paulo, segundo do Brasil, que só
um ano depois, a 24 de março de 1925, conseguiu
filiação em Rotary International. Dos
seus estatutos constavam reuniões quinzenais
e o Rotary International exigia que fossem semanais.
Embora modificando os estatutos, os Rotary Clubs brasileiros
só passaram a realizar reuniões semanais
em 1929. Em 26 de fevereiro de 1927 funda-se, com 25
sócios (o mais numeroso no ato da fundação),
filiado em Rotary International, a 21.05.1927, o Rotary
Club de Santos, apadrinhado pelos outros dois Rotary
Clubs anteriores e por eles assistido. O 41 Rotary Club
brasileiro surgiu pouco depois em Belo Horizonte a 13
de setembro de 1927, filiado a Rotary International
sob o nº 2.701 em 10 de novembro de 1927. No mesmo
ano funda-se ainda o 5° Rotary Club brasileiro de
1927, em Juiz de Fora, a 9 de novembro, filiado em Rotary
International em 10.01.28. Em 1928 fundam-se Rotary
Clubs em Niterói, Petrópolis, Campos,
Porto Alegre.
A depressão econômica, que aliás,
foi generalizada por todo o mundo ocidental, terá
sido uma das prováveis determinantes da brusca
retração no surgimento de novos Rotary
Clubs, no vasto território do Brasil; em 1929
e 1930, apenas 2 Rotary Clubs se fundaram nesse período:
os de Ribeirão Preto e Nova Friburgo.
No entanto, a razão maior, que chegou a ameaçar
o rotarismo no Brasil, foi, sem sombra de dúvida,
o decreto-lei 330, de 18.04.38 da Presidência
da República, que proibia "organizar, criar
ou manter sociedades, fundações, companhias,
clubes e quaisquer estabelecimentos de caráter
político, ainda que tenham por fim exclusivo
a propaganda ou difusão entre os seus compatriotas
de idéias, programas ou normas de ação...
a mesma proibição estende-se a sucursais...".
O primeiro impacto desse decreto-lei foi a possibilidade
funesta de que fossem obrigados a encerrar as atividades
todos os Rotary Clubs então existentes. Com esforço
do Rotary Club do Rio de Janeiro e a boa vontade do
Ministro da Justiça de então, conseguiu-se
contornar a situação substituindo nos
estatutos dos Rotary Clubs, a palavra "filiação"
(ao Rotary International) por "cooperação".
A partir de 1931, pois, ressurgiu o entusiasmo pela
expansão, com raras e espaçadas oscilações.
Hoje ocupamos o 3o lugar no mundo em número
de clubes, superados pelos Estados Unidos e Japão.
Seria imperdoável, no encerramento deste instantâneo
do assentamento do rotarismo no Brasil, omitir o nome
do bondoso, hábil, dinâmico e eficiente
Jim Roth, funcionário do Rotary International
com atribuição específica de expandir
a malha de Rotary Clubs, estruturá-la e excitar,
orientar e divulgar o espírito de serviço,
cerne e motor dos propósitos de Rotary em favor
da compreensão entre as nações.
Jim, californiano, de aproximadamente 40 anos, veio
ao Brasil em 1928. Percorreu 280.000 quilômetros,
a serviço de Rotary; organizou e fundou 83 Rotary
Clubs e ajudou na fundação de 12, totalizando
95. Organizou e supervisionou rodas as conferências
distritais aqui realizadas durante a sua permanência,
desde a primeira do Distrito 63 (Brasil, Argentina e
Uruguai), no Rio de Janeiro, em 1929. Assistiu a quantos
problemas foi solicitado com o seu magnetismo pessoal
e espírito conciliador. Recolheu- se à
Secretaria do Rotary International em 1942 e, logo em
seguida, aposentou-se. Tive o privilégio de conhecê-lo,
quando fundamos o R.C. de Irati em 1941.
OS DISTRITOS BRASILEIROS
O Sistema Administrativo de Rotary International,
dividindo o mundo rotário em Distritos, isto
é, territórios englobando certo número
de Rotary Clubs, remonta da Convenção
de 1915 em São Francisco - Califórnia.
Obviamente, ao tempo da fundação dos primeiros
Clubs na América do Sul eles estariam em zona
não distritada. Só em 1927 foram criados
dois distritos com os Rotary Clubs da Ibero-América.
Ficaram o Brasil, o Uruguai e a Argentina agrupados
no Distrito 63, durante os anos rotários 1927/28
e 1928/29 sob, respectivamente, as governadorias do
uruguaio Donato Caminara e do argentino Cupertino Dei
Campo.
No ano rotário 1929/30 já os Rotary Clubs
brasileiros passaram a compor o distrito 72 que abrangia
todo o nosso país. Essa posição
permaneceu, sem alteração, sob a responsabilidade
de um só governador a cada ano, até 1938,
quando o distrito foi dividido em 4 seções
sob a administração geral de um governador
e a colaboração de três assistentes.
Cada um deles respondia por uma das seções.
Sob as condições primitivas daquela época
não era possível uma assistência
satisfatória aos clubes, enormemente distantes
e impossibilitados de comunicação eficiente
entre si. É, pois, fácil imaginar a força
da disposição ao servir e a determinação
que sustinha o caráter dos companheiros que se
prontificavam assumir a governadoria do distrito 72,
mesmo dividido em quatro seções.
Embora, pois, inoportuno neste breve relato, a enumeração
de todos os governadores de distritos rotários,
permito-me homenagear, citando os nomes, aqueles que
mais se destacaram entre os dez primeiros: Edmundo de
Carvalho (1929/30), do Rotary Club de São Paulo;
Miguel Arrojado Lisboa (1930/31), Samuel Augusto Leão
de Moura (1931/32), do Rotary Club de Santos; Lauto
Borba (1933/34) do Rotary Club de Recife; Armando de
Arruda Pereira (1935/36) do Rotary Club de São
Paulo e Luis Dias Lins (1938/39), do Rotary Club do
Recife, auxiliado por 3 assistentes.
A partir do ano rotário 1939/40 as quatro seções
do distrito 72 passaram a constituir-se nos distritos
26, 27, 28, 29. Em 1943 o distrito 28 se desdobrou,
acrescentando ao Brasil o distrito 41. Os desdobramentos
se sucederam à medida que aumentava o número
de Rotary Clubs. Em 1944, já éramos seis
distritos, em 1947, sete: 26, 27, 28, 29, 41, 43 e 72
novamente, que permaneceram ainda durante 1948/49. Em
1949 o Rotary International recenseou os distritos mudando-
lhes a numeração e continuamos com sete
distritos sob o números: 117, 118, 119, 120,
121,123 e 124, até o ano de 1951. Em 1952, novo
desdobramento e passamos a ser oito distritos; em 1954,
nove, em 1956, dez; em 1958, 12; desde o ano anterior
com outra série de numeração: passamos
para a centena quatrocentos. Após onze anos,
em 1969, continuaram a acontecer os desdobramentos:
passamos a quatorze distritos. Em 1970, quinze; em 1971,
dezoito; em 1973, dezenove; em 1974, vinte; em 1977,
vinte e dois; em 1981, vinte e quatro; em 1985, vinte
e seis; em 1986, vinte e sete; em 1988, vinte e oito;
em 1989, vinte e nove; em 1990, trinta e um; em 1991,
trinta e quatro e em 1992, trinta e seis, que, há
dois anos atrás, receberam no final da numeração,
um zero, passando assim à designação
numérica do milhar. Somos, pois, hoje detentores
de 45,57% dos distritos rotários na região
da SACAMA.
DIRETORES BRASILEIROS
Em 1957 o Brasil já ocupava o 3°.
lugar no mundo em número de Rotary Clubs. No
entanto, apenas 3 brasileiros haviam, até então,
servido no Conselho Diretor do Rotary International,
enquanto que o Canadá e a Inglaterra, colocados
abaixo, de há anos mantinham um diretor permanente.
Por outro lado, ocupando o primeiro lugar na SACAMA
(mais de 34% de toda a região), os demais países
participantes da região já haviam tido
vinte e um diretores. É que perdurava para a
SACAMA, o critério discriminante da nomeação
do diretor pelo Conselho Diretor do Rotary International.
O companheiro Nicolau Filizola, engenheiro, do Rotary
Club de São Paulo, elaborou, então, um
trabalho profundamente persuasivo, baseado em dados
estatísticos incontestáveis, demonstrando
a iniqüidade de tratamento dado ao rotarismo brasileiro,
terminando por sugerir o zoneamento da SACAMA para a
indicação rotativa dos diretores. Trabalhando
com os números de clubes, de rotarianos e de
distritos, concluiu que a região seria dividida
em três zonas e que o Brasil participaria em duas
delas: ao sul (zona I) com a Argentina e Uruguai e no
centro (zona 2) com Paraguai, Peru, Chile e parte da
Bolívia.
Embora tenhamos conseguido, depois de trabalho exaustivo
de propagação e convicção
do trabalho de Nicolau Filizola em toda a Ibero-América,
por ele próprio, Eurico Branco Ribeiro, Adalbeno
Bueno Neto e outros, aprovar o zoneamento da SACAMA,
só nos foi possível indicar diretores
por intermédio de Comissão de Seleção
na Convenção de 1962, em Los Angeles.
Posteriormente conseguimos, ainda por trabalho de Filizola,
isolar o Brasil na zona 2 entre três zonas. Mais
tarde, em 1972, conseguimos a divisão da SACAMA
em cinco zonas, cabendo ao Brasil as de números
2 e 4. Assim, tínhamos um diretor permanente
durante quatro anos em cada quinquênio. No último
Conselho de Legislação, em 1991, conseguimos,
afinal, seis zonas para a SACAMA e o Brasil detentor
de três delas: as zonas 2, 4 e 6. A partir, pois,
de 1993/94 teremos permanentemente um diretor no Conselho
Diretor de Rotary International. Eis a relação
dos diretores brasileiros: Miguel Arrojado Lisboa, (1931/33);
Armando de Arruda Pereira (1937/39 e 1941/42); Lauro
Borba, (1947/49); Ernesto Imbassahy de Mello, (1954/56
e 1974/75); Raimundo de Oliveira Filho, (1966/68); Walter
Koch - o 11 indicado por comissão - (1972/74);
Alberto Pires do Amarante (1975/77); Paulo Viriato Corrêa
da Costa, (1978/80 e 1989/90); Archimedes Theodoro,
(1980/82); Guido Arzua, (1983/85); Mário de Oliveira
Antonino, (1985/87); João Lauro Klieman, (1988/90);
Genival de Almeida Santos, (1990/92); Gerson Gonçalves,
(1993/95) e José Alfredo Pretoni (95/97).
BRASILEIROS PRESIDENTES DO
ROTARY INTERNATIONAL
Armando Arruda Pereira
- 1940/41
Ernesto Imbassahy de Mello - 1975/76
Paulo Viriato Corrêa da Costa - 1990/91
SERVIÇOS
Por tudo o que ficou dito, não há
como negar o crescimento e a expansão do Rotary
no Brasil. Mas caberia a alguém estranho a Rotary,
que se dispuser a ler esta visão brevíssima
da sua história, perguntar: e o que resultou,
para o Brasil, dessa trabalhosa evolução
nacional de um braço de entidade internacional?
0 pequeno âmbito deste trabalho, de horizonte
e pretensão domésticos, não comporta
a enumeração dos benefícios advindos
dessa extensão. Nem mesmo teríamos "engenho
e arte" para reunir o quanto de bem há espalhado
por Rotary e rotarianos.
Mesmo para estes, capazes de entender, como serviço,
a inspiração que a ação
rotária instila na comunidade, não há
espaço aqui, para enumerar a fração
mais humilde do "Serviço" rotário
até hoje realizado em nosso país.
Aponte-se, para que tal indagação não
fique em suspenso, apenas algumas das muitas e muitas
realizações rotárias que permanecem,
desde a implantação, a testemunhar o espírito
de Rotary: o Colégio Rio Branco, um dos mais
conceituados estabelecimentos de ensino do país;
o LAR-ESCOLA Rotary que abriga quase 1000 menores, ministrando-lhes
instrução e orientação profissional;
as inúmeras fundações, espalhadas
pelo Brasil, oferecendo bolsas de estudo e assistência
social; a contribuição para o programa
pólio-plus, que - já se pode afirmar -
extinguiu a poliomielite no país e baixou extraordinariamente
a incidência e as conseqüências da
coqueluche, do sarampo, do tétano, da tuberculose
e da difteria; as inumeráveis bolsas pós
e pré-graduação oferecidas a jovens
brasileiros, no exterior; os "edifícios
Rotary" que se erguem em tantas cidades brasileiras,
enriquecendo-lhes o patrimônio urbanístico;
hotéis, hospitais, escolas, asilos, creches,
construídos e mantidos por promoções
de Rotary Clubs. Até um banco comercial de expressão
nacional nasceu da iniciativa e promoção
de rotarianos e continua a servir à economia
brasileira, incorporado ao Banco Bamerindus do Brasil
S.A., ao qual deu origem. E o que dizer da Fundação
Rotária pelo que já verteu e continua
a oferecer a brasileiros, instilando-lhes a condição
de cidadãos do mundo? Companheiros rotarianos,
meditem na potencialidade de serviços diretos
e indiretos que o seu próprio Rotary Club possui
e acrescentem-lhe as do 1892 demais Rotary Clubs brasileiros
multiplicadas pelas respectivas idades e criatividades.
Vocês sentirão avolumar-se o orgulho que
sentem de serem rotarianos e, também, a responsabilidade
e a determinação que lhes cabe no serviço
rotário perante o Brasil e perante a Humanidade! |