Cecil, então com cinco anos e meio, e Paul, com
três, logo se acostumaram com o ambiente do vale
das Montanhas Verdes de Verrnont. Carninhavarn pelas
trilhas, ajudavam a alimentar os animais da fazenda
e saboreavam os doces caseiros, sob o olhar vigilante
de seus rígidos e ternos avós.
Cecil logo voltou para a companhia de seus pais e irmãos
- além do bebê, logo viriam mais dois -
mas Paul ficou.
Howard Harrís, homem de pouca escolaridade, havia,
um dia, desejado ser advogado, sonho que logo transmitiu
para Paul, que escreveria mais tarde que toda a firmeza
de propósito, integridade e sinceridade com que
nasceu foram herdadas de seu avô; e o amor pelos
seres humanos, especialmente pelas crianças,
veio de sua avó Pamela.
Paul era um menino levado, e frequentemente, pulava
a janela de seu quarto para brincar com os colegas,
enquanto seus avós pensavam que estivesse dormindo.
Ao terminar o curso secundário, Paul se matriculou
na Academia Black River, em Ludlow, mas acabou sendo
"convidado a se retirar" por causa de suas
travessuras. Seus avós, então, o matricularam
na Academia Vermont, uma escola militar. Em 1885, ele
entrou para a Universidade de Vermont, em Burlington,
de onde foi expulso por mau comportamento, só
que, desta vez, injustamente. Anos depois, a universidade
se desculpou e conferiu um título a Paul e mais
três colegas que também haviam sido injustiçados.
Paul começou a trabalhar como professor particular
e entrou para a Universidade de Princeton. Enquanto
Paul estava em Princeton seu avô morreu, o que
o fez ficar mais próximo ainda de sua avó.
Depois de seu primeiro ano na universidade, Paul foi
trabalhar em uma marmoraria, como office-boy, ganhando
um dólar por dia. Seu bom desempenho mereceu
elogios do patrão. Confiante de que sua avó
ficaria bem na casa da filha, Paul foi estudar Direito
na Universidade Estadual de lowa, onde adquiriu um grande
amor pela leitura, especialmente dos trabalhos de Charles
Dickens e das biografias dos grandes líderes.
Pouco tempo depois de sua formatura, em 1891, sua avó
morreu. Em seu enterro, Paul percebeu que ela havia
vivido toda a sua vida em um pequeno vale. Embora tenha
sido feliz, ele decidiu que iria conhecer o mundo e
passar os próximos cinco anos estudando todos
os ângulos possíveis da vida humana, em
tantos lugares quanto possível. Depois, voltaria
para Chicago para exercer a advocacia.
A primeira parada de Paul foi a Califómia. Em
julho de 1891, chegou em São Francisco, de bolsos
vazios. Conseguiu um emprego de repórter no jornal
Chronicle, mas logo ele e um colega deixaram o jornal
para viajar pelo estado. Trabalharam como ajudantes
em fazendas, colheram uvas, deram aulas em escolas profissionalizantes,
fizeram parte de uma companhia de teatro e viajaram
por toda a região. Paul, então, foi para
a Flórida e começou a trabalhar como recepcionista
noturno em um hotel da cidade de Jacksonville. Depois,
trabalhou como caixeiro-viajante para uma firma de compra
e venda de mármore de propriedade de George W.
Clark que, vinte anos depois, seria presidente do Rotary
Club de Jacksonville.
Depois de conhecer Washington, durante a posse do Presidente
dos EUA, Grover Cleveland, foi vender mármore
no "Velho Sul". Na Filadélfia, empregado
como tratador de gado, embarcou em um navio que ia para
Liverpool, numa cansativa viagem de 14 dias. Por ter
data marcada para voltar e honrar seus compromissos,
não pôde realizar o sonho de conhecer Londres.
De volta à Filadélfia, resolveu ir de
trem para a Feira Mundial de Chicago. De lá seguiu
para Nova Orleans, onde trabalhou encaixotando laranjas
e pescando ostras nas baías pantanosas. De volta
a Jacksonville, foi trabalhar outra vez na empresa de
George Clark, e, durante um ano, cobriu todos os estados
do sul, Cuba e as Bahamas. George o enviou, então,
para a Grã Bretanha, para supervisionar as mi-
nas de granito e mármore de toda a Europa Continental.
Em cada lugar por onde passava, fazia amigos.
Já de volta aos EUA, Paul começou a planejar
sua vida em Chicago. Passado três anos e meio
dos cinco planejados, ele precisava de dinheiro. Mais
uma vez voltou a trabalhar para George Clark, que lhe
deu a chefia do escritório de Nova lorque.
Em 27 de fevereiro de 1896, quatro meses antes do limite
de cinco anos terminar, Paul chegou em Chicago. Alugou
um pequeno conjunto de escritórios e toda a mobília
para equipá-los, escolheu um para si e sublocou
os outros. A Chicago da virada do século era
uma cidade em crescimento e as constantes mudanças
sociais e financeiras proporcionavam bons negócios
para os advogados.
A natureza amável de Paul lhe rendeu amizades
em todas as camadas sociais. Mas, aos domingos e feriados,
o "rapaz do campo" adorava sair da cidade.
E, ao passear pelos arredores da cidade, sonhava com
as amizades simples de seu lar.
Em uma noite de verão de 1900, Paul jantou com
um amigo no bairro Rogers Park, de Chicago. Depois,
os dois foram dar um passeio, parando em vários
lugares onde se concentravam as empresas da cidade.
Em cada uma delas, seu amigo o apresentava ao proprietário.
Paul começou a pensar que seria uma boa idéia
reunir um grupo de colegas de negócios em um
ambiente informal, de amizade. E ainda haveria uma vantagem
especial se cada um representasse uma profissão
diferente. Pensou em seus próprios clientes:
Silvester Schiele, comerciante de carvão; Gustavus
Loehr, engenheiro de minas; Harry Ruggles, gráfico.
Na noite de 23 de fevereiro de 1905, Paul, Silvester
e Gus se reuniram, junto com Hirain Shorey, alfaiate,
no escritório de Gus, no Edifício Unity,
no centro de Chicago.
Assim, começaram a se encontrar regularmente,
levando os amigos para o seu "clube". Paul
sugeriu alguns nomes para esse clube, e escolheram Rotary,
já que o plano era realizar encontros em esquema
rotativo, nos escritórios de todos. O número
de associados cresceu rapidamente, atraindo homens que
obtiveram êxito em seus negócios sem qualquer
ajuda, a maioria solteiros vindos de fazendas ou cidades
pequenas. Logo, clubes do Rotary começavam a
ser fundados em outras cidades.
Paul compreendeu que o sistema de clubes - com seus
diferentes membros compartilhando seu ponto em comum,
a amizade - era uma ótima oportunidade para encorajar
a tolerância política e religiosa e também
para servir. Ele tinha convicção de que
a amizade levava, inevitavelmente, à boa vontade
e às grandes realizações.
Paul Harris não gastava todas as suas energias
no Rotary. Trabalhava muito como advogado, e também
era membro da Associação Comercial de
Chicago, do Clube da Cidade, da Associação
dos Advogados de Chicago e do Hinsdale Golf Club.
Além de todas essas associações,
ainda fazia parte de um clube de caminhadas e passeios,
o Prairie Club. Lá, conheceu uma moça
chamada Jean Thomson, que viera da Escócia há
três anos. Apenas três meses depois, se
casaram.
Em 1907, Paul sucedeu Albert L. White como presidente
do Rotary Club de Chicago, e exerceu a metade de um
mandato. Em 1910, representantes de 14 Rotary Clubs
independentes compareceram à primeira convenção
em Chicago, "com Chesley Perry marcando o ritmo
do trabalho". A partir daí, a "Associação
Nacional de Rotary Clubs emergiu, com estatuto e regimento
interno cuidadosamente preparados" - e com Paul
Harris como presidente e Ches Perry como secretário.
Quando Ches pediu a Paul que escrevesse uma mensagem
para os então 1.800 sócios dos Rotary
Clubs, ele respondeu com um ensaio tão longo
que Ches teve que mandar imprimi-lo em uma gráfica.
O resultado disto foi o lançamento em 1º
de janeiro de 1911, do Vol. 1, Nº 1 do boletim
The National Rotarian.
Ches Perry guiava a organização e a administração
da Associação, e Paul trabalhava principalmente
com as relações públicas. Visitava
clubes em Cincinnati, Cleveland, Detroit, Pittsburgh,
Indianápolis e também em outros países,
pois Rotary estava se expandindo. Como fundador e "presidente
emérito" do Rotary, ele era uma inspiração
poderosa para a expansão e influência da
organização aonde quer que fosse.
Companheiro Paul Harris
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